Eles criaram um dos meus petiscos prediletos: o dadinho de tapioca. Colocaram a Vila Medeiros, na Zona Norte de São Paulo, na rota da gastronomia paulistana e expandiram os horizontes: abriram um restaurante nos Estados Unidos e aumentaram a casa em mais duas unidades informais pela capital paulista e ainda inauguraram um café com o mesmo DNA.
E esse parece ser apenas o começo do Mocotó, restaurante de comida sertaneja que apaga as velinhas em 2023 e comemora 50 anos de existência. A data não é passada em branco: uma série de novos pratos integram o menu comemorativo e uma exposição sobre a história do restaurante, a qual já pude conferir, fica aberta ao público até fevereiro de 2024.
Fundado em 1973 pelo pernambucano Zé de Almeida, o Mocotó é liderado desde 2001 pelo seu filho Rodrigo Oliveira, que continua fazendo barulho com receitas e sabores do nosso nordeste São Paulo afora.
Sob seu comando a casa conquistou o selo Bib Gourmand do Guia Michelin e recebeu o prêmio de ícone do ano em 2021 do Latin America’s 50 Best Restaurants ao lado da esposa Adriana Salay pelo trabalho de combate à fome despertado durante a pandemia.
Hoje, o chef serve no restaurante joelho de porco, baião de dois, favada, rabada com xerém de milho e caipirinha com cachaça, para citar alguns itens deste banquete brasileiro. Os dadinhos de tapioca, porém, seguem como ícones intactos do menu e do trabalho do chef, os quais ganharam os cardápios de todo o Brasil. Isso é motivo de orgulho para Rodrigo, como me conta durante as gravações dos episódios especiais do CNN Viagem & Gastronomia em São Paulo.
Algumas pessoas podem se sentir plagiadas, mas cada vez que vejo o dadinho de tapioca em um buffet de casamento, em botecos e restaurantes me sinto homenageado. A gente entende que a tradição se atualiza e novas tradições são criadas, e o dadinho é uma prova disso
Rodrigo Oliveira
Novos pratos
Entre os novos pratos que podem ser encontrados no cardápio estão o pirão de leite com pipoca de queijo coalho e carne de sol confit (R$39,90) feita com coxão duro (carne que ganhou tratamento de sal, cura e cozimento para desmanchar na ponta do garfo), assim como cuscuz de milho crioulo (R$29,90); dadinho de cereais (R$ 22,90 com 6 unidades/R$34,90 com 12) e um ceviche de beijupirá com leite de tigre de umbu e chips de batata doce (R$42,90).
Também há a sobremesa cajá-manga (R$24,90), um purê de manga, sorbet de cajá e coco crocante.
O menu comemorativo é guiado por produtos, pessoas, fazendas e empresas que têm em suas práticas o propósito de fazer bem ao mundo, um legado que o Mocotó leva a sério.
Exemplo disso é o cuscuz de milho crioulo feito por dois projetos parceiros da casa (projeto Crioulo e Cooperecê); a farinha de mandioca orgânica que vem da fazenda do próprio Rodrigo em Pernambuco; a carne de gado curraleiro da fazenda Mutum; os ovos da Turma do Ovo; os chás e cafés especiais de pequenos produtores; o chocolate da Baianí; o licuri de cooperativas locais do sertão baiano; e o requeijão da Fazenda Atalaia desenvolvido especialmente para o Mocotó.
Exposição comemorativa e os próximos 50 anos
Até fevereiro de 2024 a laje do Mocotó na Vila Medeiros recebe uma exposição comemorativa sobre os 50 anos de história do restaurante.
Aberta ao público de forma gratuita, a exposição tem curadoria da pesquisadora e historiadora Adriana Salay, que organizou aqui um espaço com fotos de pratos icônicos da casa, uma recriação do antigo Mocotó com direito a réplica do balcão, mesas, cadeiras e utensílios de época, e ainda um jogo que retoma a jornada de seu Zé de Pernambuco até São Paulo e uma tela com exibição de depoimentos e testemunhos.
“Pensamos em como íamos nos comunicar com diversos públicos, já que o Mocotó é um restaurante que conversa com muita gente diferente. Então a ideia da exposição foi a mesma: fazer de uma maneira que uma pessoa que nunca foi a uma exposição entre, se aproprie e se emocione com a história. E também para pessoas que já estão acostumadas com essa linguagem”, me conta Adriana enquanto me guia pela exposição.
Chama a atenção ainda uma antiga máquina de costura que pertencia a Dona Lourdes, esposa de seu Zé e mãe de Rodrigo, que sustentou a casa e permitiu que Zé se arriscasse no novo negócio na década de 1970. “É uma homenagem a ela e a tantas outras mulheres que fazem isso acontecer”, categoriza Adriana.
E não é somente o passado que entra na história: os próximos 50 anos de Mocotó também estão na exposição. Melhorar o planeta, as relações e a comunidade estão na mira para esse futuro possível.
Para isso, Adriana cita os projetos de produção agroecológica e orgânica no interior de São Paulo do restaurante, uma fazenda de técnicas regenerativas no sertão de Pernambuco e também a continuidade do Quebrada Alimentada, projeto de distribuição de cestas básicas e marmitas para 250 famílias em situação de vulnerabilidade na Zona Norte que desde 2020 já distribuiu mais de 100 mil refeições e 105 toneladas de alimentos.
“Pensamos que isso não vai solucionar a fome, mas enquanto a fome não é solucionada as pessoas precisam comer”, diz. Que os próximos 50 anos do Mocotó venham assim, cheios de conquistas e com boas práticas para um mundo melhor.
Mocotó – Vila Medeiros
Avenida Nossa Sra. do Loreto, 1100 – Vila Medeiros, São Paulo – SP / Tel.: (11) 2951-3056 / Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 12h às 23h; sábado, das 11h30 às 23h; domingo, das 11h30 às 17h
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